Com a possível exceção de Warren Buffett, nenhum investidor hoje impõe mais respeito do que Seth Klarman do Baupost Group. E Klarman, mais do que qualquer um, sabe o poder da margem de segurança.
Desde a fundação de sua parceria de investimento em 1983, Klarman não só produziu retornos incomparáveis (acima de 20% ao ano), mas também, de tempos em tempos, ofereceu comentários sábios e atemporais sobre os mercados e a arte de investir. Ele é o autor de Margin of Safety: Risk Averse Investing Strategies for the Thoughtful Investor, que se tornou um clássico do investimento em valor (value investing) desde que foi publicado pela primeira vez em 1991.
Safal Niveshak, um investidor e famoso blogueiro indiano na internet, compilou um documento com 30 ideais sobre Margem de Segurança segundo Seth Klarman. Niveshak agrupou idéias-chave e apresentou como uma compilação, um documento que pode ser acessado aqui. Todas as ideias neste documento representam citações diretas de Klarman em Margin of Safety.
Resolvi traduzir e adaptar esse documento para o português, pois acredito que servem como um excelente guia para o investidor em valor. Portanto, sem mais delongas, confira a seguir estão 30 grandes ideias que Klarman apresenta por meio do Margin of Safety, que acredito podem ajudá-lo a se tornar um investidor melhor.
O que você vai aprender:
- Porque ser um investidor em valor requer ter uma mentalidade adequada e por isso não é para qualquer pessoa;
- Como a margem de segurança pode proteger o investidor de decisões ruins;
- Porque somos os nossos piores inimigos.
Índice de Conteúdo
- 1 – Investir em valor não é fácil
- 2 – Ser um investidor em valor
- 3 – O pior inimigo de um investidor
- 4 – É tudo sobre a mentalidade
- 5 – Não busque o conselho do Sr. Mercado
- 6 – Preço das ações x realidade empresarial
- 7 – Preço x Valor
- 8 – Emoções causam estragos em investimentos
- 9 – Mercado de Ações x Dinheiro Rápido
- 10 – Ciclos do mercado de ações
- 11 – Grandes investidores também se comportam mal
- 12 – Desempenho relativo de curto prazo
- 13 – Primeiro, evite perdas
- 14 – Relevância das flutuações temporárias de preços
- 15 – Retornos razoáveis e consistentes > Retornos espetaculares e voláteis
- 16 – Prepare-se para o pior
- 17 – Foco no processo, não no resultado
- 18 – Aguarde a tacada perfeita
- 19 – Complexidade da avaliação de negócios
- 20 – Expectativa de precisão na avaliação
- 21 – Por que margem de segurança
- 22 – Quanto de margem de segurança
- 23 – Três elementos do investimento em valor
- 24 – Pagar a mais pelo crescimento
- 25 – Travessuras do crescimento
- 26 – Investimento conservador e crescimento
- 27 – Quanta pesquisa e análise são suficientes?
- 28 – Investimento em valor e pensamento contrário
- 29 – Falácia da indexação
- 30 – Investir é um lugar perigoso
- Conclusões
- Confira também
1 – Investir em valor não é fácil
O investimento em valor requer trabalho árduo, disciplina excepcionalmente rígida e um horizonte de investimento de longo prazo. Poucos estão dispostos e são capazes de dedicar tempo e esforço suficientes para se tornarem investidores em valor, e apenas uma fração deles tem a mentalidade adequada para ter sucesso.
Como a maioria dos alunos de álgebra da oitava série, alguns investidores memorizam algumas fórmulas ou regras e superficialmente parecem competentes, mas não entendem realmente o que estão fazendo. Para alcançar o sucesso de longo prazo em muitos mercados financeiros e ciclos econômicos, observar algumas regras não é suficiente.
As coisas mudam muito rapidamente no mundo dos investimentos para que essa abordagem seja bem-sucedida. Em vez disso, é necessário compreender a lógica por trás das regras para avaliar por que e quando funcionam e quando não funcionam. O investimento em valor não é um conceito que pode ser aprendido e aplicado gradualmente ao longo do tempo. Ou é absorvido e adotado ao mesmo tempo, ou nunca é verdadeiramente aprendido.
O investimento em valor é simples de entender, mas difícil de implementar. Primeiramente deve-se entender que investidores em valor não são magos analíticos super sofisticados que criam e aplicam modelos de computador intrincados para encontrar oportunidades atraentes ou avaliar o valor subjacente.
A parte mais difícil dessa filosofia de investimento é a disciplina, paciência e julgamento. Em analogia ao jogo de beisebol, os investidores precisam de disciplina para evitar os muitos arremessos nada atraentes que são lançados, paciência para esperar pelo arremesso certo e discernimento para saber quando é a hora de fazer a tacada.
2 – Ser um investidor em valor
A busca disciplinada por pechinchas torna o investimento em valor uma abordagem avessa ao risco. O maior desafio para os investidores em valor é manter a disciplina necessária. Ser um investidor em valor geralmente significa se destacar da multidão, desafiando a sabedoria convencional e se opondo aos ventos de investimento prevalecentes. Pode ser uma tarefa muito solitária.
Um investidor em valor pode experimentar um desempenho ruim, até mesmo horrendo, em comparação com o de outros investidores ou do mercado como um todo, durante períodos prolongados de sobrevalorização do mercado. No entanto, a longo prazo, a abordagem do valor funciona com tanto sucesso que poucos, se é que algum, defensores da filosofia a abandonam.
3 – O pior inimigo de um investidor
Se os investidores pudessem prever a direção futura do mercado, certamente não escolheriam ser investidores em valor o tempo todo. De fato, quando os preços dos ativos estão aumentando constantemente, uma abordagem baseada em valor é geralmente uma desvantagem; ativos desfavorecidos tendem a subir menos do que os favoritos do público. Quando o mercado se torna totalmente valorizado a ponto de ser supervalorizado, os investidores em valor novamente se saem mal porque vendem muito cedo.
O momento mais benéfico para ser um investidor em valor é quando o mercado está caindo. É quando o risco de queda é importante e os investidores que se preocupam apenas com o que pode dar certo sofrem as consequências de um otimismo indevido.
Os investidores em valor investem com uma margem de segurança que os protege de grandes perdas em mercados em declínio. Aqueles que conseguem prever o futuro deveriam participar plenamente, na verdade deveriam usar até dinheiro emprestado, quando o mercado estiver prestes a subir e sair do mercado antes de cair. Infelizmente, muitos investidores afirmam ter capacidade de prever a direção do mercado do que realmente possuem essa capacidade. (Eu mesmo não encontrei um único.)
Aqueles, tais como nós que sabem que não podem prever os preços dos ativos com precisão são aconselhados a considerar o investimento em valor, uma estratégia segura e bem-sucedida em todos os ambientes de investimento.
Leitura recomendada:
- Margem de Segurança: O colchão de segurança do investidor em valor
- Perfil de Investidor: Entenda porque seu perfil pode ajudar a construir sua carteira de investimentos
4 – É tudo sobre a mentalidade
O sucesso do investimento requer uma mentalidade adequada. Investir é um negócio sério, não é entretenimento. Se você participa de algum mercado financeiro, é crucial fazê-lo como investidor, não como especulador, e ter certeza de que entende a diferença.
Desnecessário dizer que os investidores são capazes de distinguir Pepsico de Picasso e entender a diferença entre um investimento e um item colecionável. Quando suas economias arduamente conquistadas e sua segurança financeira futura estão em jogo, o custo de não fazer distinção é muito grande.
5 – Não busque o conselho do Sr. Mercado
Alguns investidores – na verdade especuladores – olham erroneamente para o Sr. Mercado em busca de orientação de investimento. Eles o observam estabelecendo um preço mais baixo por um título e, sem se importar com sua irracionalidade, correm para vender suas ações, ignorando sua própria avaliação do valor subjacente. Outras vezes, eles o veem aumentando os preços e, confiando em sua liderança, compram no valor mais alto como se soubesse mais do que eles.
A realidade é que o Sr. Mercado não sabe nada, sendo produto da ação coletiva de milhares de compradores e vendedores que nem sempre são motivados pelos fundamentos do investimento. Investidores emocionais e especuladores inevitavelmente perdem dinheiro; os investidores que se aproveitam da irracionalidade periódica do Sr. Mercado, por outro lado, têm uma boa chance de obter sucesso a longo prazo.
6 – Preço das ações x realidade empresarial
Louis Lowenstein nos alertou para não confundir o sucesso real de um investimento com seu espelho de sucesso no mercado de ações. O fato de o preço de uma ação subir não garante que o negócio subjacente esteja indo bem ou que o aumento do preço seja justificado por um aumento correspondente no valor subjacente. Da mesma forma, uma queda de preço por si só não reflete necessariamente problemas nos negócios ou deterioração de valor.
É de vital importância para os investidores distinguir as flutuações dos preços das ações da realidade empresarial subjacente. Se a tendência geral é que a compra gere mais compras e vendas para precipitar mais vendas, os investidores devem lutar contra a tendência de capitular às forças do mercado.
Você não pode ignorar o mercado – ignorar uma fonte de oportunidades de investimento seria obviamente um erro, mas você deve pensar por si mesmo e não permitir que o mercado o direcione.
7 – Preço x Valor
O valor em relação ao preço, não apenas o preço, deve determinar suas decisões de investimento. Se você considera o Sr. Mercado um criador de oportunidades de investimento (em que o preço difere do valor subjacente), você tem os ingredientes para um investidor em valor.
Se você insiste em consultar o Sr. Mercado para orientação de investimento, no entanto, provavelmente é melhor contratar outra pessoa para administrar seu dinheiro.
Como os preços dos ativos podem mudar por uma série de razões e, por ser impossível saber quais expectativas se refletem em qualquer nível de preço, os investidores devem olhar além dos preços de mercado para o valor do negócio subjacente, sempre comparando os dois como parte do processo de investimento.
8 – Emoções causam estragos em investimentos
Os investidores malsucedidos são dominados pela emoção. Em vez de responder com frieza e racionalidade às flutuações do mercado, eles respondem emocionalmente com ganância e medo.
Todos nós conhecemos pessoas que agem de forma responsável e deliberada na maioria das vezes, mas enlouquecem ao investir dinheiro. Pode levar muitos meses, até anos, de trabalho árduo e economia disciplinada para acumular o dinheiro, mas apenas alguns minutos para investi-lo.
A racionalidade que se aplica à compra de equipamentos eletrônicos, carros e apartamentos está ausente na hora de investir. As pessoas leem várias publicações para consumidores e visitam várias lojas antes de comprar um aparelho de som ou uma câmera, mas gastam pouco ou nenhum tempo estudando as ações sobre o qual acabaram de ouvir de um amigo.
Recomendo a leitura:
- 19 Vieses Cognitivos que Atrapalham o Investidor e Como se Prevenir Deles (Guia Completo!)
- 5 Hábitos Financeiros para o Investidor ter Sucesso no Longo Prazo
9 – Mercado de Ações x Dinheiro Rápido
Muitos investidores malsucedidos consideram o mercado de ações uma forma de ganhar dinheiro sem trabalhar, e não uma forma de investir capital para obter um retorno decente. Qualquer um desfrutaria de um lucro rápido e fácil, e a perspectiva de um ganho sem esforço incita a ganância nos investidores.
A ganância leva muitos investidores a buscarem atalhos para o sucesso do investimento. Em vez de permitir que os retornos aumentem com o tempo, eles tentam obter lucros rápidos agindo com base em dicas importantes. Eles não param para considerar como o informante pode estar de posse de informações valiosas que não foram obtidas ilegalmente ou por que, se são tão valiosas, estão sendo disponibilizadas para eles. A ganância também se manifesta como otimismo indevido ou, mais sutilmente, como complacência diante de más notícias.
Finalmente, a ganância pode fazer com que os investidores mudem seu foco da realização de objetivos de investimento de longo prazo em favor da especulação de curto prazo.
10 – Ciclos do mercado de ações
Todos os modismos do mercado chegam ao fim. Os preços dos ativos eventualmente se tornam muito altos, a oferta alcança e, em seguida, excede a demanda, o topo é atingido e a queda segue em frente.
Sempre haverá ciclos de moda de investimento e, com a mesma certeza, investidores que são suscetíveis a eles. É justo notar que não é fácil distinguir um modismo de investimento de uma tendência real de negócios. Na verdade, muitos modismos de investimento têm origem em tendências reais de negócios, que merecem ser refletidas nos preços das ações.
A moda torna-se perigosa, entretanto, quando os preços das ações atingem níveis que não são sustentados pelos valores avaliados de forma conservadora dos negócios subjacentes.
11 – Grandes investidores também se comportam mal
Se o comportamento dos investidores institucionais não fosse tão horrível, poderia até ser engraçado.
Centenas de bilhões de dólares ganhos com dificuldade de outras pessoas são rotineiramente superados com base em pouca ou nenhuma pesquisa e análise aprofundada. Isso se deve porque a mentalidade predominante é o consenso, o pensamento de grupo. Agir com a multidão garante uma mediocridade aceitável; agir de forma independente corre o risco de um desempenho inferior inaceitável.
Na verdade, a orientação de desempenho relativo de curto prazo de muitos gestores de dinheiro tornou o “investidor institucional” uma contradição em termos. A maioria dos administradores de recursos é remunerada, não de acordo com os resultados que alcançam, mas como uma porcentagem do total de ativos sob gestão. O incentivo é expandir os ativos administrados para gerar mais taxas. No entanto, embora um negócio de gestão de dinheiro normalmente se torne mais lucrativo à medida que os ativos sob gestão aumentam, um bom desempenho de investimento torna-se cada vez mais difícil.
Esse conflito entre os melhores interesses do gerente de dinheiro e os dos clientes é normalmente resolvido a favor do gerente.
12 – Desempenho relativo de curto prazo
Como cães correndo atrás do próprio rabo, a maioria dos investidores institucionais ficou presa em um cigarret-bullet de desempenho relativo de curto prazo. Os gerentes de fundos em uma instituição sofreram a distração dos cálculos de desempenho por hora; numerosos gerentes recebem comparações diárias de seus resultados com os de gerentes de outras empresas.
A classificação comparativa frequente só pode reforçar uma perspectiva de investimento de curto prazo.
É difícil manter uma visão de longo prazo quando, diante das penalidades pelo mau desempenho de curto prazo, a visão de longo prazo pode muito bem partir da linha do desemprego. Investir sem entender o comportamento dos investidores institucionais é como dirigir em um país estrangeiro sem um mapa. Você pode chegar aonde está indo, mas a viagem certamente vai demorar mais e você corre o risco de se perder no meio do caminho.
13 – Primeiro, evite perdas
Warren Buffett gosta de dizer que a primeira regra de investimento é “Não perca dinheiro” e a segunda regra é: “Nunca se esqueça da primeira regra”.
Eu também acredito que evitar perdas deve ser o objetivo principal de todo investidor. Isso não significa que os investidores nunca devam incorrer em risco de perda. Em vez disso, “não perca dinheiro” significa que, ao longo de vários anos, uma carteira de investimentos não deve ser exposta a perdas apreciáveis de principal.
Embora ninguém deseje incorrer em perdas, você não poderia provar isso examinando o comportamento da maioria dos investidores e especuladores. O impulso especulativo que existe dentro da maioria de nós é forte; a perspectiva de um almoço grátis pode ser atraente, especialmente quando outras pessoas aparentemente já participaram.
Pode ser difícil se concentrar em perdas potenciais enquanto outros estão avidamente buscando ganhos e seu corretor está ao telefone oferecendo ações na última oferta pública inicial “quente”. No entanto, evitar perdas é a maneira mais segura de garantir um resultado lucrativo.
Leia também:
14 – Relevância das flutuações temporárias de preços
Além da probabilidade de perda permanente associada a um investimento, existe também a possibilidade de flutuações intermediárias de preços que não estão relacionadas ao valor subjacente. Muitos investidores consideram as flutuações de preços um risco significativo: se o preço cair, o investimento é visto como arriscado, independentemente dos fundamentos.
Mas as flutuações temporárias de preços são realmente um risco? Não da forma que as imparidades permanentes de valor o são e, nesse caso, apenas para determinados investidores em situações específicas.
Obviamente, nem sempre é fácil para os investidores distinguir a volatilidade temporária dos preços, relacionada às forças de oferta e demanda de curto prazo, dos movimentos de preços relacionados aos fundamentos do negócio. A realidade só pode se tornar aparente após o fato.
Embora os investidores devam obviamente tentar evitar pagar a mais por investimentos ou comprar em empresas que, subsequentemente, diminuem de valor devido à deterioração dos resultados, não é possível evitar a volatilidade aleatória do mercado de curto prazo. Na verdade, os investidores devem esperar que os preços flutuem e não devem investir em ativos se não puderem tolerar alguma volatilidade.
Se você está comprando um valor sólido com desconto, as flutuações de preço de curto prazo são importantes? No longo prazo, eles não importam muito; o valor acabará se refletindo no preço do ativo. Na verdade, ironicamente, a implicação de investimento de longo prazo das flutuações de preços está na direção oposta do impacto de mercado de curto prazo.
Ou seja, quedas de preços de curto prazo, na verdade, aumentam os retornos dos investidores de longo prazo. Existem, no entanto, várias eventualidades em que as flutuações de preço de curto prazo são importantes para os investidores. Os detentores de ativos que precisam vender com pressa estão à mercê dos preços de mercado. O truque dos investidores de sucesso é vender quando querem, não quando precisam.
Os preços dos ativos de curto prazo também são importantes para os investidores de uma empresa com problemas. Se uma empresa precisar levantar capital adicional no curto prazo para sobreviver, os investidores em seus ativos podem ter seu destino determinado, pelo menos em parte, pelo preço de mercado prevalecente das ações e ativos da empresa.
A terceira razão pela qual os investidores orientados para o longo prazo estão interessados nas flutuações dos preços de curto prazo é que o Sr. Mercado pode criar oportunidades muito atraentes de compra e venda. Se você tem dinheiro, pode tirar vantagem de tais oportunidades.
Se você estiver totalmente investido quando o mercado cair, seu portfólio provavelmente cairá em valor, privando-o dos benefícios decorrentes da oportunidade de comprar em níveis mais baixos. Isso cria um custo de oportunidade, a necessidade de renunciar às oportunidades futuras que surgem. Se o que você mantém é ilíquido ou não comercializável, a oportunidade do custo aumenta ainda mais; a falta de liquidez impede sua mudança para melhores pechinchas.
15 – Retornos razoáveis e consistentes > Retornos espetaculares e voláteis
Um corolário da importância da capitalização é que é muito difícil recuperar até mesmo de uma grande perda, que poderia literalmente destruir de uma vez os efeitos benéficos de muitos anos de sucesso de investimentos.
Em outras palavras, é mais provável que um investidor se saia bem obtendo retornos consistentemente bons com risco de queda limitado do que obtendo ganhos voláteis e às vezes espetaculares, mas com risco considerável de principal.
Um investidor que ganha 16% de retorno anual ao longo de uma década, por exemplo, vai, talvez surpreendentemente, acabar com mais dinheiro do que um investidor que ganha 20% ao ano durante nove anos e depois perde 15% no décimo ano.
16 – Prepare-se para o pior
A intenção dos investidores de evitar perdas deve se posicionar para sobreviver e até mesmo prosperar em quaisquer circunstâncias.
Má sorte pode acontecer com você; erros acontecem … o investidor prudente e perspicaz administra sua carteira com o conhecimento de que catástrofes financeiras podem ocorrer e de fato ocorrem. Os investidores devem estar dispostos a renunciar a algum retorno de curto prazo, se necessário, como um prêmio de seguro contra adversidades inesperadas e imprevisíveis.
17 – Foco no processo, não no resultado
Muitos investidores erroneamente estabelecem uma meta de investimento para atingir uma taxa de retorno específica. Definir uma meta, infelizmente, não torna esse retorno alcançável. Na verdade, não importa qual seja o objetivo, pode estar fora de alcance.
Afirmar que você deseja ganhar, digamos, 15% ao ano, não diz nada sobre como alcançá-lo. Os retornos do investimento não são uma função direta de quanto tempo ou muito você trabalha ou de quanto deseja ganhar. Um escavador de valas pode trabalhar uma hora extra por um pagamento extra, e um trabalhador autônomo ganha mais quanto mais ele ou ela produz.
Um investidor não pode decidir pensar mais ou fazer horas extras para obter um retorno maior. Tudo o que um investidor pode fazer é seguir uma abordagem consistentemente disciplinada e rigorosa; com o tempo, os retornos virão. Em vez de almejar uma taxa de retorno desejada, mesmo que eminentemente razoável, os investidores devem almejar o risco.
18 – Aguarde a tacada perfeita
Warren Buffett usa uma analogia com o beisebol para articular a disciplina dos investidores em valor. Um investidor em valor orientado para o longo prazo é um rebatedor em um jogo onde nenhuma bola ou rebatida é chamada, permitindo dezenas, até mesmo centenas, de arremessos, incluindo muitos nos quais outros rebatedores rebateriam.
Os investidores em valor são estudantes do jogo de investimentos; eles aprendem com cada arremesso, aqueles em que tentam acertar e aqueles que deixam passar. Não são influenciados pela maneira como os outros estão atuando; e são motivados apenas por seus próprios resultados. Possuem têm paciência infinita e estão dispostos a esperar até que encontrem o momento ideal – uma oportunidade de investimento subestimada.
Os investidores em valor não devem investir em negócios que eles não conseguem entender ou que considerem excessivamente arriscados.
A maioria dos investidores institucionais, ao contrário dos investidores em valor, sente-se compelida a investir integralmente em todos os momentos. Eles agem como se um árbitro estivesse chamando bolas e rebatidas – principalmente rebatidas -, forçando-os a balançar em quase todos os arremessos e renunciar à seletividade de rebatidas para a frequência.
Muitos investidores individuais, como jogadores amadores, simplesmente não conseguem distinguir um bom arremesso de um selvagem. Tanto os indivíduos indiscriminados quanto os investidores institucionais restritos podem se consolar em saber que a maioria dos participantes do mercado se sente compelida a mudar com a mesma frequência.
Para um investidor em valor, um lance não deve estar apenas na zona de rebatida, mas também em seu “ponto ideal”. Os resultados serão melhores quando o investidor não for pressionado a investir prematuramente. Pode haver momentos em que o investidor não tira o taco do ombro; o título mais barato em um mercado supervalorizado ainda pode estar supervalorizado. Você não gostaria de se contentar com um investimento que oferece um retorno seguro de 10% se pensasse que seria muito provável que outro oferecendo um retorno igualmente seguro de 15% se materializasse em breve.
Às vezes, dezenas de bons argumentos para vender são lançados consecutivamente para um investidor em valor. Em mercados em pânico, por exemplo, o número de ativos subvalorizados aumenta e o grau de subvalorização também aumenta. Em mercados dinâmicos, por outro lado, tanto o número de ativos subvalorizados quanto seu grau de subvalorização diminuem.
Quando as oportunidades atraentes são abundantes, os investidores em valor são capazes de peneirar cuidadosamente todas as barganhas para encontrar as que consideram mais atraentes. Quando oportunidades atraentes são escassas, no entanto, os investidores devem exibir grande autodisciplina para manter a integridade do processo de avaliação e limitar o preço pago. Acima de tudo, os investidores devem sempre evitar fazer lances ruins.
19 – Complexidade da avaliação de negócios
Seria um erro grave pensar que todos os fatos que descrevem um determinado investimento são ou poderiam ser conhecidos. Não apenas as perguntas podem permanecer sem resposta; todas as perguntas certas podem nem mesmo ter sido feitas.
Mesmo que o presente pudesse de alguma forma ser perfeitamente compreendido, a maioria dos investimentos depende de resultados que não podem ser previstos com precisão. Mesmo que tudo pudesse ser conhecido sobre um investimento, a complicada realidade é que os valores dos negócios não são gravados em pedra. Investir seria muito mais simples se os valores dos negócios permanecessem constantes, enquanto os preços das ações girassem previsivelmente em torno deles como os planetas ao redor do sol.
Afinal, se você não pode ter certeza do valor, como pode ter certeza de que está comprando com desconto? A verdade é que você não pode.
20 – Expectativa de precisão na avaliação
Muitos investidores insistem em atribuir valores exatos aos seus investimentos, buscando precisão em um mundo impreciso, mas o valor do negócio não pode ser determinado com precisão.
Afinal, o valor contábil, os ganhos e o fluxo de caixa relatados são apenas as melhores suposições de contadores que seguem um conjunto bastante rígido de padrões e práticas concebidos mais para obter conformidade do que para refletir o valor econômico.
Os resultados projetados são menos precisos ainda. Você não pode estimar o valor de sua casa para os mil dólares mais próximos. Por que seria mais fácil atribuir valor a negócios vastos e complexos?
O valor do negócio não é apenas imprecisamente conhecível, mas também muda com o tempo, flutuando com vários fatores macroeconômicos, microeconômicos e relacionados ao mercado. Portanto, embora os investidores em qualquer momento não possam determinar o valor do negócio com precisão, eles devem, no entanto, reavaliar quase continuamente suas estimativas de valor para incorporar todos os fatores conhecidos que podem influenciar sua avaliação.
Qualquer tentativa de avaliar os negócios com precisão resultará em valores precisamente imprecisos. O problema é que é fácil confundir a capacidade de fazer previsões precisas com a capacidade de fazer previsões precisas.
Qualquer pessoa com uma calculadora pode realizar cálculos de valor presente líquido (VPL) e taxa interna de retorno (TIR). O advento da planilha computadorizada exacerbou esse problema, criando a ilusão de uma análise extensa e cuidadosa, mesmo para os esforços mais aleatórios. Normalmente, os investidores dão grande importância à produção, embora prestem pouca atenção às premissas. “Entra lixo, sai lixo” é uma descrição adequada do processo.
Em Security Analysis, Graham e David Dodd discutiram o conceito de uma faixa de valor:
O ponto essencial é que a análise dos ativos não busca determinar exatamente qual é o valor intrínseco de um determinado título. Ela precisa apenas estabelecer o valor que é adequado – por exemplo, para proteger um título ou para justificar uma compra de ações ou então que o valor é consideravelmente superior ou inferior ao preço de mercado. Para tais fins, uma medida indefinida e aproximada do valor intrínseco pode ser suficiente. “
Benjamim Graham, Security Analysis
Na verdade, Graham frequentemente realizava um cálculo conhecido como capital de giro líquido por ação, uma estimativa do valor de liquidação de uma empresa. O uso dessa aproximação grosseira foi uma admissão tácita de que muitas vezes era incapaz de determinar o valor de uma empresa com mais precisão.
Recomendamos a leitura:
21 – Por que margem de segurança
O investimento em valor é a disciplina de comprar ativos com um desconto significativo de seus valores subjacentes atuais e mantê-los, se possível, para sempre. O elemento da barganha é a chave do processo.
Como investir é tanto uma arte quanto uma ciência, os investidores precisam de uma margem de segurança. Uma margem de segurança é alcançada quando os ativos são comprados a preços suficientemente abaixo do valor intrínseco para permitir erro humano, má sorte ou extrema volatilidade em um mundo complexo, imprevisível e em rápida mudança.
Os investidores em valor buscam uma margem de segurança, permitindo espaço para imprecisões, azar ou erros analíticos a fim de evitar perdas consideráveis ao longo do tempo. Uma margem de segurança é necessária porque:
- Avaliação é uma arte imprecisa;
- O futuro é imprevisível e;
- Os investidores são humanos e cometem erros.
22 – Quanto de margem de segurança
A resposta pode variar de um investidor para outro. Quanto de má sorte você está disposto e é capaz de tolerar? Quanta volatilidade você pode absorver? Qual é a sua tolerância ao erro? Tudo se resume a quanto você pode perder.
A maioria dos investidores não buscam uma margem de segurança em seus investimentos. Os investidores institucionais que compram ações como pedaços de papel a serem negociados e que permanecem totalmente investidos o tempo todo, não conseguem obter uma margem de segurança. Os investidores individuais gananciosos que seguem as tendências e modismos do mercado estão no mesmo barco. A única margem de risco que os investidores que compram subscrições, IPOs ou inovações do mercado financeiro geralmente experimentam é uma margem de perigo.
Como os investidores podem ter certeza de obter uma margem de segurança?
- Sempre comprando com um desconto significativo em relação ao valor de negócios subjacente e dando preferência aos ativos tangíveis em relação aos intangíveis. (Isso não significa que não existam excelentes oportunidades de investimento em negócios com ativos intangíveis valiosos.)
- Substituindo os ativos atuais à medida que melhores negócios surgem. (Sendo que bons negócios você deve manter para sempre).
- Vender quando o preço de mercado de qualquer investimento passa a refletir seu valor subjacente e manter caixa, se necessário, até que outros investimentos atraentes estejam disponíveis. (Sendo que bons negócios você deve manter para sempre).
Os investidores devem prestar atenção não apenas se, mas também por que motivo, as participações atuais estão subvalorizadas. É fundamental saber por que você fez um investimento e vender quando o motivo para possuí-lo não se aplica mais (ou seja, perdeu valor para você). Procure por investimentos com catalisadores que possam auxiliar diretamente na realização do valor subjacente.
Dê preferência a empresas com boa gestão e com interesse financeiro pessoal no negócio. Finalmente, diversifique suas participações e proteja-se quando for financeiramente atraente fazê-lo.
Porque investir sem prazo? Leia o artigo:
23 – Três elementos do investimento em valor
Confira abaixo três elementos essenciais do investimento em valor.
1 – Análise de baixo para cima
Investimento em valor emprega uma estratégia de baixo para cima (bottom-up) pela qual as oportunidades de investimento individuais são identificadas uma de cada vez por meio da análise fundamentalista. Os investidores em valor buscam ativos em promoção com boa margem de segurança, analisando cada situação por seus próprios méritos. Toda a estratégia pode ser descrita de forma concisa como “compre uma pechincha e espere”.
Os investidores devem aprender a avaliar o valor para saberem identificar uma pechincha quando a virem. Em seguida, eles devem ter paciência e disciplina para esperar até que uma pechincha surja de suas buscas e comprá-la, independentemente da direção prevalecente do mercado ou de suas próprias opiniões sobre a economia em geral.
2 – Orientação para o desempenho absoluto
A maioria dos investidores institucionais e muitos investidores individuais adotaram uma orientação para o desempenho relativo. Eles investem com o objetivo de superar o desempenho do mercado, de outros investidores ou de ambos e parecem indiferentes se os resultados alcançados representam ganho ou perda absoluta.
O bom desempenho relativo, especialmente o desempenho relativo de curto prazo, é comumente buscado imitando o que os outros estão fazendo ou tentando adivinhar o que os outros farão. Os investidores em valor, em contraste, são orientados para o desempenho absoluto; eles estão interessados em retornos apenas na medida em que eles se relacionam com a realização de seus próprios objetivos de investimento, não em como eles se comparam com a forma como o mercado geral ou outros investidores estão se saindo.
O bom desempenho absoluto é obtido através da compra de ativos subvalorizados e da venda de participações que se tornam mais totalmente avaliadas. Para a maioria dos investidores, os retornos absolutos são os únicos que realmente importam; afinal, você não pode gastar desempenho relativo.
Os investidores orientados para o desempenho absoluto geralmente têm uma perspectiva mais de longo prazo do que os investidores orientados para o desempenho relativo. Um investidor voltado para o desempenho relativo geralmente não deseja ou é incapaz de tolerar longos períodos de desempenho inferior e, portanto, investe no que quer que seja popular no momento. Fazer o contrário prejudicaria os resultados de curto prazo.
Os investidores orientados para o desempenho relativo podem, na verdade, evitar situações que claramente oferecem retornos absolutos atraentes no longo prazo, se criá-los representasse o risco de um desempenho inferior no curto prazo. Em contraste, os investidores orientados para o desempenho absoluto tendem a preferir participações desfavorecidas que podem levar mais tempo para se concretizar, mas também apresentam menos risco de perda.
3 – Risco e retorno
Enquanto a maioria dos outros investidores está preocupada com quanto dinheiro eles podem ganhar e não com quanto podem perder, os investidores em valor focam tanto no risco quanto no retorno.
O risco é uma percepção na mente de cada investidor que resulta da análise da probabilidade e da quantidade de perda potencial de um investimento. Se um poço exploratório de petróleo for um poço seco, é considerado arriscado. Se um ativo entra em default ou uma ação cai de preço, eles são chamados de arriscados.
Mas se o poço for um poço, o ativo vence dentro do cronograma e as ações sobem fortemente, podemos dizer que eles não eram arriscados quando o investimento foi feito? De jeito nenhum. A questão é que, na maioria dos casos, não se sabe mais sobre o risco de um investimento depois de concluído do que se sabia quando foi feito.
Existem apenas algumas coisas que os investidores podem fazer para neutralizar o risco: diversificar adequadamente, fazer hedge quando apropriado e investir com uma margem de segurança. É precisamente porque não conhecemos e não podemos conhecer todos os riscos de um investimento que nos esforçamos para investir com desconto. O elemento de barganha ajuda a fornecer uma almofada para quando as coisas dão errado.
24 – Pagar a mais pelo crescimento
Existem muitos investidores que tomam decisões apenas com base em suas próprias previsões de crescimento futuro. Afinal, quanto mais rápido os ganhos ou o fluxo de caixa de uma empresa estiverem crescendo, maior será o valor presente dessa empresa. No entanto, várias dificuldades enfrentam os investidores orientados para o crescimento.
Em primeiro lugar, esses investidores frequentemente demonstram maior confiança em sua capacidade de prever o futuro do que é garantido. Em segundo lugar, para empresas de crescimento rápido, mesmo pequenas diferenças nas estimativas das taxas de crescimento anual podem ter um impacto tremendo na avaliação. Além disso, com tantos investidores tentando comprar ações de empresas em crescimento, os preços das escolhas de consenso podem atingir níveis não suportados pelos fundamentos.
Uma vez que a entrada no “Hall da Fama dos Negócios” é frequentemente feita por uma porta giratória, os investidores podem às vezes ser atraídos a fazer projeções excessivamente otimistas com base em resultados temporariamente robustos, fazendo com que paguem a mais por negócios medíocres.
Outra dificuldade em investir com base no crescimento é que, embora os investidores tendam a simplificar demais o crescimento para um único número, o crescimento é, na verdade, composto de várias partes móveis que variam em sua previsibilidade. Para qualquer negócio específico, por exemplo, o crescimento dos ganhos pode resultar do aumento das vendas unitárias relacionadas a aumentos previsíveis na população em geral, ao aumento do uso de um produto pelos consumidores, ao aumento da participação de mercado, à maior penetração de um produto na população, ou aos aumentos de preços.
Warren Buffett disse: “Para o investidor, um preço de compra muito alto para as ações de uma excelente empresa pode desfazer os efeitos de uma década subsequente de desenvolvimentos comerciais favoráveis.”
25 – Travessuras do crescimento
Os investidores costumam ser excessivamente otimistas em sua avaliação do futuro. Um bom exemplo disso é a resposta comum às baixas contábeis. Essa prática contábil permite que uma empresa, a seu exclusivo critério, faça uma limpeza geral, livrando-se instantaneamente de ativos de baixo desempenho, contas a receber incobráveis, empréstimos inadimplentes e os custos incorridos em qualquer reestruturação societária que acompanha a baixa.
Normalmente, esses movimentos são recebidos com entusiasmo por analistas de Wall Street e investidores; após a baixa, a empresa geralmente relata um maior retorno sobre o patrimônio e melhores margens de lucro. Esses resultados melhorados são então projetados para o futuro, justificando uma maior valorização do mercado de ações. Os investidores, no entanto, não devem permitir que a lousa seja apagada com tanta generosidade. Quando os erros históricos são apagados, é muito fácil ver o passado como livre de erros. É então apenas um pequeno passo adicional para projetar esse passado livre de erros para o futuro, fazendo a previsão improvável de que nenhuma operação atualmente lucrativa irá estragar e que nenhum investimento ruim será feito novamente.
26 – Investimento conservador e crescimento
Como os investidores em valor lidam com a necessidade analítica de prever o imprevisível?
A única resposta é conservadorismo. Como todas as projeções estão sujeitas a erros, as otimistas tendem a colocar os investidores em uma situação difícil. Praticamente tudo deve dar certo, ou as perdas podem ser sustentadas.
As previsões conservadoras podem ser facilmente atendidas ou mesmo ultrapassadas. Os investidores são aconselhados a fazer apenas projeções conservadoras e, em seguida, investir apenas com um desconto substancial das avaliações derivadas delas.
27 – Quanta pesquisa e análise são suficientes?
Alguns investidores insistem em tentar obter o conhecimento perfeito sobre seus investimentos iminentes, pesquisando empresas até acharem que sabem tudo o que há para saber sobre elas. Eles estudam a indústria e a concorrência, entram em contato com ex-funcionários, consultores da indústria e analistas e se familiarizam pessoalmente com a alta administração. Eles analisam as demonstrações financeiras da última década e as tendências dos preços das ações por ainda mais tempo.
Essa diligência é admirável, mas tem duas deficiências. Primeiro, não importa quantas pesquisas sejam realizadas, algumas informações sempre permanecem indefinidas; os investidores têm que aprender a viver com menos que informações completas. Em segundo lugar, mesmo que um investidor pudesse saber todos os fatos sobre um investimento, ele não necessariamente lucraria.
Isso não quer dizer que a análise fundamental não seja útil. Certamente é.
Mas as informações geralmente seguem a conhecida regra 80/20: os primeiros 80% das informações disponíveis são coletados nos primeiros 20% do tempo gasto. O valor da análise fundamentalista em profundidade está sujeito a retornos marginais decrescentes.
A maioria dos investidores busca inutilmente a certeza e a precisão, evitando situações em que as informações sejam difíceis de obter. No entanto, a alta incerteza é freqüentemente acompanhada por preços baixos. Quando a incerteza for resolvida, os preços provavelmente terão subido.
Os investidores freqüentemente se beneficiam ao tomar decisões de investimento com conhecimento menos do que perfeito e são bem recompensados por assumir o risco da incerteza.
O tempo que outros investidores gastam investigando o último detalhe sem resposta pode custar-lhes a chance de comprar a preços tão baixos que oferecem uma margem de segurança, apesar das informações incompletas.
28 – Investimento em valor e pensamento contrário
O investimento em valor, por sua própria natureza, é contrário (contrary investing).
Os ativos desfavorecidos podem estar subavaliados; ativos populares quase nunca são. O que o rebanho está comprando é, por definição, a favor. Os ativos a favor já sofreram uma alta de preço com base em expectativas otimistas e provavelmente não representarão um bom valor que tenha sido esquecido.
Se não é provável que exista valor no que o rebanho está comprando, onde ele pode existir? No que estão vendendo, sem saber ou ignorando. Quando o rebanho está vendendo um ativo, o preço de mercado pode cair além da razão. Valores mobiliários ignorados, obscuros ou recém-criados podem ser subvalorizados ou subvalorizados.
Os investidores podem achar difícil agir como contrários, pois eles nunca podem ter certeza se ou quando eles serão provados corretos. Como estão agindo contra a multidão, os contrários estão quase sempre inicialmente errados e provavelmente sofrerão perdas de papel por algum tempo. Em contraste, os membros do rebanho quase sempre têm razão por um período. Os contrários não estão apenas inicialmente errados, mas podem estar errados com mais frequência e por períodos mais longos do que outros, porque as tendências do mercado podem continuar muito além de quaisquer limites garantidos pelo valor subjacente.
Ter uma opinião contrária nem sempre é útil para os investidores, no entanto. Quando opiniões amplamente defendidas não têm influência sobre o assunto em questão, nada se ganha nadando contra a maré. É sempre consenso que o sol nascerá amanhã, mas essa visão não influencia o resultado.
29 – Falácia da indexação
Para avaliar os investidores, o conceito de indexação é, na melhor das hipóteses, tolo e, na pior, bastante perigoso.
Warren Buffett observou que “em qualquer tipo de competição – financeira, mental ou física – é uma enorme vantagem ter oponentes que foram ensinados que é inútil até tentar. “Eu acredito que com o tempo os investidores em valor irão superar o mercado e que escolher igualar isso é preguiçoso e míope.
A indexação é uma estratégia perigosamente falha por vários motivos. Primeiro, torna-se autodestrutivo quando mais e mais investidores o adotam. Embora a indexação seja baseada em mercados eficientes, quanto maior a porcentagem de todos os investidores que indexam, mais ineficientes os mercados se tornam, pois cada vez menos investidores realizam pesquisas e análises fundamentais.
Na verdade, no extremo, se todos praticassem a indexação, os preços das ações nunca mudariam em relação uns aos outros, porque ninguém seria deixado para movê-los.
Outro problema surge quando uma ou mais ações do índice devem ser substituídas; isso ocorre quando um membro de um índice vai à falência ou é adquirido por meio de uma aquisição. Como os indexadores desejam estar totalmente investidos nos ativos que compõem o índice em todos os momentos, a fim de corresponder ao desempenho do índice, o ativo que é adicionado ao índice como uma substituição deve ser comprado imediatamente por centenas ou talvez milhares de gerentes de portfólio .
Devido à liquidez limitada, no dia em que uma nova ação é adicionada a um índice, muitas vezes ela aumenta consideravelmente de preço à medida que os indexadores correm para comprar. Nada fundamental mudou; nada faz com que essa ação valha mais hoje do que ontem. Com efeito, as pessoas estão dispostas a pagar mais por essa ação só porque ela se tornou parte de um índice.
Acredito que a indexação acabará sendo apenas mais um modismo de Wall Street. Quando isso acontecer, os preços dos ativos incluídos em índices populares quase certamente cairão em relação aos que foram excluídos. Mais significativamente, como Barron’s apontou, “um ciclo de feedback de auto-reforço foi criado, onde o sucesso da indexação reforçou o desempenho do próprio índice, o que, por sua vez, promove mais indexação”.
Quando a tendência do mercado se reverter, igualar o mercado não parecerá tão atraente, a venda afetará adversamente o desempenho dos indexadores e agravará ainda mais a corrida para as saídas.
30 – Investir é um lugar perigoso
A Bolsa de Valores pode ser um lugar perigoso para os investidores. Você não tem escolha a não ser fazer negócios lá, mas deve estar sempre alerta.
O comportamento padrão dos moradores da Bolsa é buscar a maximização do interesse próprio; a orientação geralmente é de curto prazo. Isso deve ser reconhecido, aceito e tratado. Se você fizer negócios com o Sr. Mercado com essas ressalvas em mente, poderá prosperar.
Se você depende do Sr. Mercado para ajudá-lo, o sucesso do investimento pode permanecer ilusório.
Conclusões
Neste artigo vimos 30 ideias sobre margem de segurança segundo Seth Klarman. Todas as ideias neste documento representam citações diretas de Klarman em seu livro Margin of Safety. Foram eles:
- Investir em valor não é fácil
- Ser um investidor em valor
- O pior inimigo de um investidor
- É tudo sobre a mentalidade
- Não busque o conselho do Sr. Mercado
- Preço das ações x realidade empresarial
- Preço x Valor
- Emoções causam estragos em investimentos
- Mercado de Ações x Dinheiro Rápido
- Ciclos do mercado de ações
- Grandes investidores também se comportam mal
- Desempenho relativo de curto prazo
- Primeiro, evite perdas
- Relevância das flutuações temporárias de preços
- Retornos razoáveis e consistentes > Retornos espetaculares e voláteis
- Prepare-se para o pior
- Foco no processo, não no resultado
- Aguarde a tacada perfeita
- Complexidade da avaliação de negócios
- Expectativa de precisão na avaliação
- Por que margem de segurança
- Quanto de margem de segurança
- Três elementos do investimento em valor
- Pagar a mais pelo crescimento
- Travessuras do crescimento
- Investimento conservador e crescimento
- Quanta pesquisa e análise são suficientes?
- Investimento em valor e pensamento contrário
- Falácia da indexação
- Investir é um lugar perigoso
Como podem ver, muitas das grandes ideias elencadas fazem parte da filosofia do investimento em valor. Espero que essas ideais aprimorem seu conhecimento, mentalidade e forma de encarar o mercado de ações. Logicamente, você deve adaptar cada uma delas a sua realidade, formando a sua própria filosofia.
Bons investimentos!
Leitura recomendada
- Grandes Investidores – Warren Buffett e Charles Munger, 1ª ed, 2017 – por Glen Arnold
- A Universidade da Berkshire Hathaway, 1ª ed, 2020 – por Daniel Pecaut e Corey Wrenn
Fontes de consulta
- https://www.safalniveshak.com/30-ideas-from-seth-klarman-margin-of-safety/
Aviso: Alguns links acima podem ser de afiliados, o que significa que posso receber uma comissão se você comprar os livros por meio deles. Não há custo extra para você. Só recomendo livros que considero valiosos. Se usar os links, estará apoiando este site e seu conteúdo, o que agradeço sinceramente.
Siga-me nas redes sociais:
2 Comments