

No livro “Rápido e Devagar“, Daniel Kahneman nos apresenta uma visão fascinante sobre como a nossa mente processa informações.
Ele descreve dois sistemas distintos de pensamento que governam nosso comportamento e decisões diárias. Entender esses sistemas pode nos ajudar a tomar decisões mais racionais, além de nos proteger de falácias e vieses cognitivos que influenciam nosso julgamento.
Daniel Kahneman revela uma abordagem inovadora sobre como a mente humana processa informações, tomando decisões e interpretando o mundo ao nosso redor.
Ele descreve dois sistemas de pensamento que governam nossas escolhas e comportamentos diários. Ao entender esses sistemas, podemos tomar decisões mais informadas e evitar falácias e vieses cognitivos que frequentemente distorcem nosso julgamento.
Índice de Conteúdo
Os Dois Sistemas do Cérebro
Kahneman descreve os dois sistemas principais que controlam nossos pensamentos e ações, cada um com características distintas: Sistema 1 e Sistema 2.
Vamos entender melhor cada um deles.
Sistema 1: Rápido, Intuitivo e Automático
O Sistema 1 opera como um processo de pensamento rápido, automático e intuitivo.
Ele funciona sem esforço consciente, lidando com decisões de forma quase instantânea, baseando-se em experiências passadas, instintos e padrões reconhecíveis.
Esse sistema é essencial para tarefas cotidianas que exigem rapidez e eficiência, como reconhecer um rosto familiar, desviar de um objeto que vem em nossa direção ou tomar decisões em situações de risco imediato, como atravessar a rua.
Por ser rápido e automático, o Sistema 1 economiza energia mental, mas, ao mesmo tempo, pode cometer erros devido à falta de reflexão profunda.
A simplificação das decisões pode levar a conclusões precipitadas e falácias, o que pode ser arriscado, especialmente quando estamos lidando com questões mais complexas.
Sistema 2: Lento, Deliberativo e Racional
Por outro lado, o Sistema 2 é o raciocínio mais lento, deliberativo e racional.
Este sistema entra em ação quando precisamos refletir profundamente sobre problemas mais complexos, como resolver um problema matemático, fazer uma análise crítica de uma decisão financeira importante ou planejar a longo prazo.
O Sistema 2 exige mais esforço mental e consciência, já que estamos envolvidos ativamente no processo de pensamento.
Embora o Sistema 2 nos permita tomar decisões mais racionais e fundamentadas, ele exige mais energia e pode ser preguiçoso, levando-nos a optar pela solução mais simples e rápida, ou seja, o Sistema 1. Isso pode ser uma vantagem em algumas situações, mas também pode levar a decisões menos acertadas em contextos que exigem maior reflexão.
Como o Sistema 1 Nos Engana
Embora o Sistema 1 seja extremamente eficiente para decisões rápidas e cotidianas, ele também tem suas falhas. Vários vieses cognitivos surgem quando esse sistema entra em ação, resultando em decisões equivocadas.
Esses erros geralmente acontecem porque o Sistema 1 se baseia em heurísticas (atalhos mentais) que, embora úteis, nem sempre são precisos.
Pulando para Conclusões
O Sistema 1 tende a tirar conclusões rápidas com base em informações limitadas.
Quando somos confrontados com uma situação nova, podemos fazer julgamentos precipitados sem ter todas as informações necessárias. Isso pode resultar em decisões baseadas em estereótipos ou experiências passadas que não são mais aplicáveis.
WYSIATI (What You See Is All There Is)
O viés WYSIATI ocorre quando acreditamos que a informação disponível é a única que importa, ignorando dados ou perspectivas importantes.
Esse viés pode nos levar a formar opiniões erradas, baseadas em uma percepção parcial da realidade. Por exemplo, se ouvimos uma notícia negativa sobre uma empresa, podemos concluir que a empresa está em falência, mesmo sem ter dados suficientes para confirmar essa afirmação.
Ilusão de Causalidade
O Sistema 1 tende a buscar explicações causais para eventos que ocorrem de forma simultânea, mesmo que essas explicações não existam. Isso leva ao erro de estabelecer relações de causa e efeito onde não há nenhuma.
Por exemplo, associar um evento ruim a um número da sorte pode ser uma interpretação completamente equivocada, mas o Sistema 1 busca essas relações de maneira automática.
Efeito Priming
O efeito priming ocorre quando estímulos anteriores influenciam nosso comportamento ou decisões de maneira inconsciente.
Por exemplo, se alguém ouvir palavras relacionadas a dinheiro antes de tomar uma decisão de compra, isso pode aumentar a probabilidade de escolher algo mais caro, sem perceber a conexão.
Esgotamento de Ego
O Sistema 1 também é ativado quando estamos mentalmente exaustos, o que pode diminuir nosso autocontrole.
Ao tomar muitas decisões consecutivas ou complexas, nosso ego se esgota, tornando-nos mais suscetíveis a escolhas impulsivas ou erradas. Isso é visível, por exemplo, quando uma pessoa compra compulsivamente após um longo dia de trabalho.
Como Nosso Julgamento é Afetado
Nossos julgamentos nem sempre são baseados em lógica pura e, frequentemente, caímos em armadilhas cognitivas. Essas armadilhas são os vieses que nos afetam de maneira constante e invisível.
Confira os principais vieses que afetam nossas decisões:
Lei dos Pequenos Números
O Sistema 1 tende a tirar conclusões precipitadas com base em amostras pequenas, ignorando o risco de que eventos extremos não são representações precisas da tendência geral.
Por exemplo, se alguém ganha em uma loteria várias vezes consecutivas, pode acreditar que está “predestinado” a ganhar novamente, ignorando a natureza aleatória do evento.
Ancoragem
A ancoragem ocorre quando um valor inicial serve como ponto de referência para nossas estimativas subsequentes. Esse viés é comum quando nos deparamos com preços. Se alguém nos disser que um produto custa R$ 200, podemos considerar esse valor como referência e achar que qualquer valor próximo a ele parece razoável, mesmo que o produto não valha isso.
Regressão à Média
O Sistema 1 tende a ignorar o fenômeno da regressão à média, que é a tendência de que eventos extremos sejam seguidos por resultados mais próximos à média.
Por exemplo, um investidor pode acreditar que um desempenho excepcional no mercado de ações será sustentado, quando, na realidade, a tendência é que o desempenho se normalize.
Aversão à Perda
A aversão à perda é um viés cognitivo em que o medo de perder algo pesa mais do que o desejo de ganhar algo equivalente.
Esse viés é frequentemente visto em decisões financeiras, onde investidores mantêm ações que estão perdendo valor, temendo uma perda maior, em vez de vender e investir em algo mais promissor.
Como as Nossas Escolhas Se Desviam do Racional
Em muitas situações, nossos julgamentos são influenciados por vieses que desviam nossa escolha do que seria racional. O Sistema 1, em sua tentativa de simplificar as decisões, nos leva a escolhas irracionais.
Confira exemplos de como o Sistema 1 afeta nossas decisões:
Efeito Dotação
O efeito dotação ocorre quando atribuímos valor excessivo a coisas que possuímos. Isso pode levar a decisões irracionais, como manter um objeto ou bem que não tem mais utilidade para nós, apenas porque sentimos que ele é “nosso”.
No mercado financeiro, isso pode se manifestar como o apego a ações que não têm mais potencial de valorização.
Eventos Raros
O Sistema 1 tende a superestimar a probabilidade de eventos raros, como desastres naturais ou ataques terroristas.
Isso pode nos levar a tomar precauções excessivas ou tomar decisões baseadas em medo, quando, na realidade, a probabilidade de tais eventos acontecerem é baixa.
Contabilidade Mental
O viés da contabilidade mental faz com que tratemos diferentes fontes de dinheiro como se fossem separadas, mesmo quando deveriam ser tratadas de forma integrada.
Por exemplo, podemos ser excessivamente cautelosos ao gastar dinheiro de um bônus, mas mais relaxados com o uso do salário, quando, em termos financeiros, ambos os montantes são igualmente importantes.
Como Evitar os Vieses Cognitivos
Para minimizar o impacto dos vieses cognitivos em nossas decisões, precisamos usar mais o Sistema 2, que permite uma reflexão mais profunda e uma análise crítica.
Confira estratégias para lidar com os vieses cognitivos:
Questione suas percepções
Sempre que possível, pare para refletir sobre suas decisões, especialmente aquelas mais importantes. Pergunte a si mesmo se há outras explicações ou dados que você não considerou.
Busque dados objetivos
Sempre que possível, baseie suas decisões em dados objetivos e verificáveis, e não apenas em intuições ou suposições. Isso é especialmente importante em decisões financeiras, onde uma análise cuidadosa pode evitar muitos erros.
Considere cenários alternativos
Ao avaliar uma situação, pense nas alternativas e nas consequências de cada uma delas. Isso ajuda a evitar decisões precipitadas e a ter uma visão mais ampla.
Seja cético em relação às conclusões rápidas
Lembre-se de que o Sistema 1 é altamente influenciável e propenso a erros. Se você tiver uma impressão forte sobre algo, faça uma análise crítica para verificar se realmente há fundamento nas suas conclusões.
Conclusões
Entender como os dois sistemas do cérebro influenciam nossas decisões pode ser uma poderosa ferramenta para melhorar nosso julgamento e proteger-nos de falácias cognitivas.
Ao reconhecer os vieses que podem surgir e aprender a questioná-los, conseguimos tomar decisões mais informadas e racionais, tanto na vida pessoal quanto nos investimentos.
A chave é estar consciente desses processos mentais e usar o raciocínio deliberativo do Sistema 2 para equilibrar os impulsos do Sistema 1.
Bons investimentos!
Leitura recomendada
- Rápido e Devagar: As duas formas de pensar, 1ª ed, 2011 – por Daniel Kahneman
- A Arte de Pensar Claramente, 2ª ed, 2014 – por Rolf Dobeli
- Previsivelmente Irracional, 1ª ed, 2009 – por Dan Ariely
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