A Influência do Comportamento Humano na Tomada de Decisões por Daniel Kahneman

Tomada de Decisões
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Entenda como nossa mente afeta nossa tomada de decisões.

Daniel Kahneman é um nome de destaque no campo da psicologia, economia comportamental e tomada de decisões.

Junto com Amos Tversky, ele desafiou as ideias convencionais sobre a tomada de decisão humana, explorando vieses cognitivos e processos de pensamento.

Suas pesquisas revolucionárias sobre o julgamento humano e a teoria da perspectiva expandiram os horizontes da psicologia e da economia, integrando insights psicológicos à ciência econômica – o que lhe o Prêmio Nobel de Economia em 2002.

Infelizmente, em Março de 2024, Kahneman nos deixou, aos 90 anos de idade, mas seu legado será eterno. Graças as suas pesquisas e insights inovadores, Kahneman lançou luz sobre o processo de tomada de decisão humana de uma maneira única e esclarecedora.

Confira a seguir seus maiores ensinamentos sobre comportamento humano, tomada de decisões e sua influência sobre finanças e investimentos.

A tomada de decisão desempenha um papel crucial em nossas vidas diárias, moldando nossas ações, escolhas e resultados.

Compreender como os indivíduos processam informações e fazem escolhas é fundamental em uma variedade de campos, desde economia até psicologia e negócios.

No mundo dos investimentos, essa importância é ainda mais evidente. Desde a seleção entre diferentes ativos até o momento oportuno para comprar ou vender, cada passo influencia diretamente os resultados financeiros.

Essa relevância da tomada de decisão é amplamente explorada por Daniel Kahneman e Amos Tversky, renomados psicólogos cujas pesquisas revolucionaram a compreensão do comportamento humano nos mercados financeiros.

Kahneman e Tversky introduziram diversas teorias e estudos sobre esse tema, alguns dos quais são extraídos de seu famoso livro “Rápido e Devagar“. Vamos explorar algumas das teorias mais importantes que eles apresentaram.

Teoria dos Dois Sistemas

Kahneman introduziu a Teoria dos Dois Sistemas, que descreve duas formas distintas de pensamento: Sistema 1 e Sistema 2.

O Sistema 1 é rápido, intuitivo e emocional, enquanto o Sistema 2 é mais lento, deliberativo e racional.

Essa teoria enfatiza a distinção entre o pensamento rápido e intuitivo (Sistema 1) e o pensamento mais lento e deliberado (Sistema 2). No contexto dos investimentos, isso significa que os investidores muitas vezes confiam em intuições rápidas ao avaliar oportunidades, o que pode resultar em decisões precipitadas ou influenciadas por vieses cognitivos.

No entanto, essa abordagem impulsiva pode levar a erros de julgamento e decisões subótimas nos investimentos.

Investidores podem ser influenciados por vieses cognitivos, como o viés da confirmação ou o efeito de ancoragem, levando a escolhas que não refletem uma análise completa e racional da situação.

Teoria da Perspectiva

Um dos conceitos-chave desenvolvidos por Kahneman e Tversky é a teoria do perspectiva (ou também chamada de teoria do prospecto).

Essa teoria sugere que os indivíduos valorizam as perdas e os ganhos de maneira assimétrica, sendo mais sensíveis às perdas do que aos ganhos equivalentes.

Essa assimetria na percepção de ganhos e perdas tem importantes implicações para os investidores, pois pode influenciar suas decisões de alocação de recursos e sua tolerância ao risco.

De acordo com a teoria do perspectiva, as pessoas tendem a sentir as perdas duas vezes mais intensamente do que os ganhos.

Por exemplo, muitas pessoas hesitariam em participar de uma aposta em que poderiam ganhar $100, mas correriam o risco de perder $50. Esse viés em direção à aversão ao risco pode afetar as decisões de investimento, levando os investidores a evitar oportunidades potencialmente lucrativas devido ao medo de perdas.

Embora seja natural sentir aversão ao risco, é essencial manter uma perspectiva equilibrada e avaliar cuidadosamente o potencial retorno em relação ao risco envolvido em cada investimento. Isso pode envolver a diversificação da carteira, a adoção de estratégias de gerenciamento de risco e a busca de orientação profissional quando necessário.

Ao compreender e superar o impacto da teoria da perspectiva, os investidores podem tomar decisões mais informadas e alinhadas com seus objetivos financeiros de longo prazo.

Irracionalidade

Os humanos são seres irracionais por natureza.

Todos nós cometemos uma série de erros irracionais em nossas vidas. Por exemplo, 90% dos americanos acreditam que são melhores motoristas do que a média, enquanto 70% acreditam que são mais inteligentes do que a média.

Esses exemplos destacam como nossas percepções muitas vezes não correspondem à realidade estatística.

Essa irracionalidade pode influenciar nossas decisões em diversas áreas da vida, incluindo finanças, relacionamentos e saúde.

É importante reconhecer e entender esses padrões de comportamento para tomar decisões mais informadas e evitar armadilhas cognitivas que podem levar a resultados subótimos.

Efeito Halo

O efeito halo é um viés cognitivo em que a impressão geral de uma pessoa influencia a percepção de suas características individuais ou qualidades.

Quando uma pessoa tem uma impressão positiva de alguém, tende a superestimar suas capacidades e atributos positivos. Da mesma forma, uma impressão negativa pode levar a uma subestimação dessas características.

Esse fenômeno pode afetar uma variedade de situações, desde avaliações de desempenho no trabalho até interações sociais cotidianas.

É importante estar ciente do efeito halo para evitar avaliações tendenciosas e tomar decisões mais imparciais e objetivas.

Falácia dos Custos Irrecuperáveis

A falácia dos custos irrecuperáveis ocorre quando uma pessoa continua investindo em algo, mesmo que não valha a pena, apenas porque já investiu recursos nisso anteriormente.

Um exemplo comum é optar por assistir a um filme chato até o final só porque já foi pago o ingresso. Mesmo que a experiência não seja agradável, a pessoa pode sentir que precisa “recuperar” o custo do ingresso, mesmo que isso signifique desperdiçar mais tempo e energia.

Essa falácia pode levar a decisões irracionais, pois ignora a análise objetiva dos custos e benefícios futuros.

É importante reconhecer quando estamos sendo influenciados pela falácia dos custos irrecuperáveis e tomar decisões com base nas circunstâncias atuais e nas perspectivas futuras, em vez de ficar preso ao investimento passado.

Viés Retrospectivo

O viés retrospectivo é a tendência de acreditar, após a ocorrência de um evento, que alguém teria previsto ou esperado o resultado.

Um exemplo comum é depois de assistir a um jogo de beisebol, insistir que se sabia de antemão que o time vencedor sairia vitorioso.

Esse viés pode distorcer a nossa percepção da realidade, levando-nos a superestimar nossa capacidade de prever eventos passados.

É importante estar ciente desse viés ao analisar eventos históricos ou avaliar o desempenho de outras pessoas, a fim de evitar conclusões equivocadas e tomar decisões mais informadas no futuro.

Heurística de Disponibilidade

A heurística de disponibilidade é um viés cognitivo em que se julga a probabilidade de um evento com base na facilidade com que ele vem à mente.

Um exemplo claro é o impacto do atentado de 11 de setembro. Após esse evento, muitas pessoas passaram a associar voar com o medo e a insegurança. Como resultado, a probabilidade percebida de um acidente de avião aumentou significativamente para muitos indivíduos.

Esse viés pode levar a uma avaliação distorcida dos riscos, uma vez que eventos altamente divulgados ou emocionalmente impactantes tendem a ser mais facilmente lembrados e, portanto, são considerados mais prováveis de ocorrer. Consequentemente, é essencial reconhecer a heurística de disponibilidade ao tomar decisões importantes e buscar avaliações mais objetivas dos riscos envolvidos.

Viés de Confirmação

O viés de confirmação é um fenômeno em que as pessoas tendem a buscar informações que confirmem suas crenças pré-existentes, enquanto ignoram ou minimizam informações que as contradizem.

Como investidor, é importante estar ciente desse viés e procurar ativamente por perspectivas divergentes.

Conversar com pessoas que têm opiniões opostas pode ser extremamente esclarecedor, pois ajuda a evitar a armadilha de tomar decisões baseadas apenas em informações que confirmam suas próprias visões.

Ao considerar uma variedade de opiniões e perspectivas, os investidores podem tomar decisões mais informadas e evitar ficar presos ao viés de confirmação, o que pode levar a escolhas menos acertadas e a uma compreensão limitada do mercado.

Efeito de Enquadramento

O efeito de enquadramento ocorre quando a forma como a informação é apresentada influencia as decisões e percepções das pessoas.

Por exemplo, estudos demonstraram que quando apresentada a escolha entre carne que é “magra” versus carne que contém “25% de gordura”, a maioria das pessoas prefere a carne descrita como “magra”, embora ambas se refiram à mesma coisa.

Esse fenômeno ilustra como pequenas variações na apresentação de informações podem levar a diferentes escolhas e percepções.

O efeito de enquadramento é amplamente utilizado em estratégias de comunicação e marketing, bem como em campanhas políticas e de saúde pública, destacando a importância de considerar cuidadosamente como a informação é moldada e apresentada para influenciar as decisões das pessoas.

Efeito de Ancoragem

O efeito de ancoragem é um viés em que as pessoas tendem a confiar excessivamente na primeira informação que recebem ao tomar uma decisão.

Por exemplo, se alguém vê primeiro um carro que custa US$ 100 mil e depois vê um segundo carro que custa US$ 70 mil, é mais provável que perceba o segundo carro como sendo relativamente barato em comparação.

A primeira informação recebida, nesse caso, o preço do primeiro carro, atua como uma “âncora” que influencia a percepção do valor do segundo carro.

Esse fenômeno destaca como informações iniciais podem distorcer as avaliações subsequentes, mesmo que não sejam diretamente relevantes para a decisão em questão.

É importante estar ciente do efeito de ancoragem ao tomar decisões financeiras ou de compra e procurar avaliar cuidadosamente todas as informações disponíveis, independentemente da ordem em que são apresentadas.

Como é demonstrado através dos extensos estudos de Kahneman, Tversky e diversos outros economistas comportamentais, o comportamento humano tem influência direta nas tomadas de decisões.

Confira a seguir algumas dicas para saber lidar com essas limitações.

1 – Compreenda os Vieses Cognitivos

Conforme vimos anteriormente, os estudos de Kahneman e Tversky revelam uma série de vieses cognitivos que afetam as decisões financeiras.

Por exemplo, o viés de confirmação pode levar os investidores a buscar informações que confirmem suas crenças preexistentes, ignorando evidências contrárias.

Da mesma forma, o viés de ancoragem pode distorcer decisões com base em valores de referência arbitrários, em detrimento de análises fundamentais.

A compreensão desses vieses é o primeiro passo para evitar armadilhas mentais e tomar decisões mais conscientes e informadas.

Ao adotar uma abordagem mais consciente e reflexiva, os investidores podem mitigar os efeitos dos vieses cognitivos e tomar decisões mais fundamentadas e orientadas para o longo prazo.

Um dos pontos-chave abordados por Kahneman é a diferença entre tolerância ao risco e tolerância às perdas.

Enquanto muitos investidores se concentram na busca por altos retornos, é crucial considerar até que ponto estão dispostos a suportar perdas antes de mudar de ideia sobre seus investimentos.

Gerenciar adequadamente o risco e antecipar o arrependimento são aspectos essenciais para construir um portfólio sólido e alinhado com as metas financeiras de longo prazo.

Para gerir o risco de forma adequada aprenda sobre diversificação, alocação de ativos, custo médio unitário e Buy & Hold.

3 – Separe sua Conta em Duas

A compreensão das duas contas mentais que as pessoas mantêm – uma para dinheiro seguro e outra para dinheiro arriscado – pode orientar o investidor na criação de estratégias personalizadas que atendam às suas necessidades de segurança e oportunidade.

Essa abordagem individualizada leva em consideração a aversão pessoal à perda e contribui para uma gestão financeira mais eficaz.

4 – Cuidado com às “Dicas Financeiras”

Ao analisar a publicidade financeira sob a ótica da economia comportamental, os investidores podem se proteger de informações enganosas e tomar decisões mais fundamentadas.

A conscientização sobre como a publicidade pode explorar os vieses cognitivos das pessoas ajuda a filtrar mensagens enganosas e a adotar uma postura crítica em relação às oportunidades de investimento apresentadas.

5 – Uso de Estratégias Pré-determinadas

Usar esquemas e estratégias definidas é de suma importância para lidar com os vieses cognitivos e tomadas de decisão.

Se o investidor possui uma abordagem fundamentada e sólida, ele consegue evitar desvios comportamentais.

6 – Busque Diversidade de Opiniões

Buscar diferentes perspectivas e opiniões, especialmente as divergentes, pode oferecer insights valiosos e ajudar a evitar o viés de confirmação.

Conversar com pessoas que têm visões opostas pode fornecer uma compreensão mais ampla e informada das questões em jogo, permitindo que os investidores tomem decisões mais equilibradas e bem fundamentadas.

7 – Use Pensamento de Segundo Nível

Empregar o pensamento de segundo nível implica em ir além da superficialidade das decisões imediatas e considerar as implicações mais amplas e a longo prazo de cada escolha.

Isso permite uma análise mais profunda e uma visão mais holística das situações, ajudando os investidores a evitar decisões precipitadas e a tomar medidas mais bem ponderadas.

O estudo do comportamento humano e sua influência na tomada de decisões é fundamental para os investidores que buscam maximizar retornos e minimizar riscos em seus portfólios.

A pesquisa pioneira de Daniel Kahneman e Amos Tversky trouxe à luz uma série de vieses cognitivos e heurísticas que moldam nossas escolhas, muitas vezes de maneiras previsíveis e não racionais.

A Teoria dos Dois Sistemas nos lembra da dicotomia entre o pensamento rápido e intuitivo e o pensamento lento e deliberado, destacando a necessidade de reconhecer e mitigar os impulsos irracionais que podem levar a decisões subótimas.

A Teoria da Perspectiva nos alerta sobre a tendência humana de valorizar as perdas mais do que os ganhos equivalentes, influenciando nossas decisões de investimento e nossa tolerância ao risco.

Além disso, os vieses cognitivos, como o efeito de ancoragem, a falácia dos custos irrecuperáveis ​​e o viés de confirmação, destacam a importância de uma abordagem crítica e consciente ao avaliar informações e tomar decisões financeiras.

Por meio da compreensão e aplicação desses conceitos, os investidores podem desenvolver estratégias mais eficazes de gerenciamento de riscos, tomar decisões mais informadas e resistir às influências prejudiciais da publicidade financeira e dos vieses cognitivos.

Em última análise, ao adotar uma abordagem baseada em evidências e orientada para o longo prazo, os investidores podem aumentar suas chances de sucesso e alcançar seus objetivos financeiros com maior confiança e segurança.

Bons investimentos!

Leitura recomendada

Vídeo recomendado

Fontes de consulta

  • https://www.valuewalk.com/daniel-kahneman-the-human-side-of-decision-making/
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