Economia Comportamental e a Teoria do Nugde: pequenas sugestões do dia-a-dia

Nudge
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As vezes somos influenciados por pequenos empurrõezinhos (sem ao menos nos dar conta).

Richard H. Thaler, economista americano que ganhou o Prêmio Nobel da Ciência Econômica em 2017, dedicou toda sua carreira na área de economia comportamental, mostrando como o comportamento de pessoas reais afeta a atividade econômica.

Thaler, um dos primeiros estudiosos a unir a economia à psicologia, talvez seja mais conhecido teórico em finanças comportamentais e por sua colaboração com Daniel Kahneman e outros em definir esse campo.

A linha de pesquisa de Thaler, conhecida como economia comportamental, humaniza a economia. Sua premissa básica é de que os seres humanos não são sempre racionais e que suas escolhas são baseadas em questões subjetivas e culturais – muitas vezes, esses fatores podem pesar até mais do que a racionalidade.

Seus estudos mostram que as tomadas de decisão não são tão simples e que o comportamento das pessoas afetam movimentos na economia que não podem ser previstos ou explicados pelos economistas clássicos. Thaler é um dos pais fundadores da teoria do “nudge“, que ajudou a impulsionar as receitas fiscais britânicas e encorajou os fumantes a se tornarem vaporizadores na Inglaterra.

Neste artigo você vai aprender:

  • Qual a diferença da economia clássica e a economia comportamental
  • Porque nosso cérebro nos engana com atalhos mentais
  • Como os nudges podem ajudar (ou prejudicar) nossas tomadas de decisão

Economia Comportamental: A irracionalidade nas tomadas de decisão

A teoria econômica predominante postula a hipótese da racionalidade econômica, que corresponde ao homo economicus.

Segundo esta hipótese, os indivíduos procuram satisfazer as suas necessidades da forma racionalmente perfeita. Ela implica que os indivíduos são capazes de classificar as suas escolhas por ordem de preferência, privilegiando as com o menor custo de oportunidade associado.

Princípios fundamentais do conceito homo economicus são:

  1. A razão psicológica essencial a toda a atividade humana é o interesse pessoal. Este primeiro princípio define a única razão da atividade econômica.
  2. O homem obedece à lógica e a racionalidade
  3. O sujeito é universal, o interesse pessoal e a racionalidade são validos em todos os lugares e em todos as épocas.
  4. O homem está perfeitamente informado, tem conhecimento da totalidade das consequências de todas as possibilidades das ações que se lhe oferecem
  5. O homem vive o presente num tempo linear, não se lembra nem tem a capacidade de prever.
  6. Ele está só e portanto livre dos outros homens e suas influências

Com base nesta construção abstrata, que os economistas construíram sobre um corpo teórico unanimemente aceite, elaboraram-se leis econômicas que se encontram em todas as obras fundamentais: a lei da maximização da utilidade e leis sobre a utilidade marginal, aplicadas ao consumo e à produção.

Ao contrário do campo da economia clássica, em que a tomada de decisão é inteiramente baseada em lógica, a economia comportamental permite um comportamento irracional e tenta entender por que isso pode ser o caso.

A economia comportamental incorpora o estudo da psicologia na análise da tomada de decisão por trás de um resultado econômico, como os fatores que levaram o consumidor a comprar um produto em vez de outro.

Os aspectos psicológicos individuais não desaparecem quando muitos agentes econômicos interagem juntos nos mercados. Isso significa que o conceito pode ser aplicado em menor escala, em situações individuais, ou mais amplamente para abranger as ações de uma sociedade ou tendências nos mercados financeiros.

A teoria é particularmente útil para empresas e comerciantes que buscam aumentar as vendas incentivando mudanças no comportamento dos consumidores. Também pode ser usado para fins de definição de políticas públicas.

A Teoria do Nudge: Um empurrãozinho pode levar a grandes decisões

Uma das aplicações úteis da economia comportamental diz respeito ao conceito da teoria do nudge (traduzido como “cutucão” ou “empurrãozinho”, em português), um termo que ele criou para ajudar a explicar como as pequenas intervenções podem encorajar indivíduos a tomar decisões diferentes.

Teoria do Nudge também é conhecida como “arquitetura de escolha”, que significa organizar o contexto de alguma situação para influenciar escolhas em tomadas de decisão.

Richard Thaler é o pai do termo Nudge.

Ele co-escreveu o best-seller global “Nudge: O Empurrão Para A Escolha Certa” (link afiliado) em 2008 com o professor dos EUA, Cass Sunstein, que levou a teoria a uma maior atenção. Ele foi um conselheiro sobre a criação da “unidade de nudging”  no coração de Whitehall, iniciando como um projeto de estimação por David Cameron (político britânico, na época primeiro-ministro) nos primeiros dias de sua presidência a partir de 2010 no governo da coalizão (Fonte: The Guardian).

Esse livro foi lido por políticos em todo o mundo e logo os fez abraçar a noção de que as pessoas podem ser influenciadas por solicitações – como mudar a redação das exigências fiscais – para alterar seu comportamento.

O nudging propõe organizar o ambiente que os seres humanos interagem para melhorar suas decisões, e consequentemente, sua produtividade, prosperidade e bem-estar.

Uma cutucada ou orientação é qualquer aspecto da arquitetura de escolhas que altera o comportamento das pessoas de maneira previsível sem proibir nenhuma opção nem mudar significativamente seus incentivos econômicos.

Para ser considerada uma mera cutucada ou orientação, uma intervenção deve ser fácil e barata de evitar.

As cutucadas não são ordens. Mas orientação ou sugestão.”

Richard Thaler

Inicialmente, a unidade de nudging foi focada em problemas de saúde pública, como obesidade, consumo de álcool e doação de órgãos, embora o seu alcance tenha aumentado para cobrir tudo, desde pensões e impostos até roubo de telefones celulares e cigarros eletrônicos.

Formalmente chamado de Behavioral Insights Team, mais amplamente conhecido após o livro de Thaler, a unidade de nudging é creditada por contribuir no incentivo de 100.000 doações de órgãos adicionais por ano e persuadir 20% mais pessoas a considerar mudar o fornecedor de energia.

Thaler é uma voz líder sobre como o nudging pode enfrentar problemas na sociedade, embora os varejistas muitas vezes empregem economia comportamental para incentivar maiores vendas fazendo pequenas mudanças para alterar os hábitos de compra dos consumidores.

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Aplicações do Nudging

Os nudges podem ser usar utilizados para manipular as ações dos indivíduos em diversas aspectos.

  • Redução da obesidade
  • Diminuição do desperdício no consumo de energia e água
  • Diminuição na sonegação de impostos
  • Aumento da adesão a programas de previdência
  • Expansão do número de doadores de órgãos
  • Desburocratização de serviços ao cidadão
  • Realocação no mercado de trabalho

Nudges são frequentemente utilizados para estimular condutas ambientalmente sustentáveis, mais saudáveis – como reduzir o consumo de cigarros ou açúcares – e mais previdentes, como a vinculação a programas de aposentadoria.

Confira alguns exemplos.

1 – Doação de órgãos

Thaler examinou o uso da inércia e o poder dos arranjos padrão nas permissões para a doação de órgãos.

Theresa May está considerando um sistema de consentimento presumido – o que significaria que os indivíduos presumem concordar com o uso de partes do corpo após a morte, a menos que eles optem por fora – em uma política que foi fundamental para o seu discurso na conferência do partido conservador em Manchester.

2 – Lembretes fiscais

A unidade de nuding ajudou a reescrever cartas de lembrete de impostos usando princípios de economia comportamental, que, segundo ele, ajudaram a recuperar mais de 200 milhões de libras esterlinas para o governo em um ano.

3 – E-cigarros

A equipe de insights comportamentais trabalhou com o Departamento de Saúde no quadro regulamentar dos cigarros eletrônicos, considerando os dispositivos como potencialmente benéficos para ajudar fumantes a pararem de fumar.

Ele aconselhou o governo de que é muito mais fácil substituir um comportamento semelhante do que eliminar um retratado. Mais de 2,3 milhões de pessoas deixaram de fumar cigarros convencionais para utilizarem os cigarros eletrônicos.

4 – BREXIT

O acadêmico dos EUA, professor da Universidade de Chicago, sugeriu anteriormente que a Brexit poderia ser um exemplo de economia comportamental em ação.

Ele argumentou que os eleitores britânicos escolheram uma rota economicamente irracional ao considerar as opções colocadas pelas elites e pela mídia convencional.

“Pessoalmente, acho que uma votação para sair é uma jogada altamente arriscada. A maioria dos eleitores não está realmente pensando nisso de forma muito analítica “, disse ele em uma entrevista antes do referendo no ano passado.

5 – Supermercados

Thaler sugere que mudanças possam ser feitas no “ambiente de escolha” de um indivíduo para influenciar seu comportamento.

O melhor exemplo disso vem no supermercado, onde se pode chamar a atenção para certos produtos para encorajar os consumidores a gastar dinheiro com alimentos mais saudáveis.

6 – Esquemas Ponzi e Atalhos para Ganhos Rápido

O acadêmico já disse que o fraudador do esquema de Ponzi, Bernie Madoff, era um mestre em ganhar a confiança das pessoas e poderia ter escrito um livro semelhante que mostra como usar a teoria do impulso para ganhos pessoais.

O conto de fadas para o “enriquecimento rápido” é sedutor, tais como é para o emagrecimento fácil, com suas variadas fórmulas, segredos e técnicas, altamente difundidas no ambiente da internet.

Economia Comportamental nos Investimentos

Como a economia comportamental pode nos ajudar a investir melhor?

O investimento é um processo de tomada de decisões.

Em geral, quanto maior a qualidade dessas decisões, melhores serão os retornos a longo prazo. No entanto, as decisões de investimento geralmente são tomadas em circunstâncias desafiadoras, com informações limitadas e resultados incertos.

Diante de tal tomada de decisão, a maioria das pessoas sofrem de vieses previsíveis que podem diminuir a qualidade das decisões tomadas, levando a resultados de investimento insatisfatórios.

A existência desses vieses contrasta fortemente com a visão tradicional da economia de que as pessoas tomam decisões racionais e maximizadoras de lucros (que é uma grande piada de mal gosto).

Confira 5 pontos em que a economia comportamental pode ajudar o investidor a processar as escolhas de forma a encorajá-lo a tomar melhores decisões.

1 – Poupar mais para o amanhã

Poupar mais para o amanhã é difícil para grande parte da população.

Superar a relutância em poupar adiando a poupança até receber um aumento de salário ou décimo terceiro e, em seguida, alocar parte ou toda a economia é um grande desafio.

A construção do seu patrimônio e a sua independência financeira devem ser o objetivo central. Todas as outras coisas devem ser secundárias e sua vida financeira deve se adaptar ao que sobra depois que você poupa.

Diante de uma nova situação podemos sim mudar nossos hábitos para que possamos nos adaptar a novas condições. No começo, o desconforto com a mudança é inevitável, mas tudo pode ser superado.

Ao invés de investir o que sobra de suas economias, as pessoas precisam poupar de imediato e consumir o que sobra depois. Quando conseguir fazer isso, o acúmulo de patrimônio será maior e consistente.

2 – Definir metas ao investir

Uma vez que os investidores reconheçam que são vulneráveis ​​ao tomar decisões irracionais, eles podem tomar medidas diretas para manter seus vieses comportamentais indesejáveis ​​sob controle.

Isso inclui definir metas de investimento claras.

Metas ao investir incluem troca de automóvel, compra de imóvel, planejar uma viagem e acumular patrimônio. Ter essas metas definidas é importante para evitar tomadas de decisão irracionais.

Todos temos objetivos de curto, médio e longo prazo. Saber separa-los é uma tarefa inicial difícil, tais como é poupar no inicio. Mas, essa etapa pode sim ser superada.

3 – Focar nos fatos e no valor

Uma vez que o investidor tenha decidido investir em renda variável, ele deve ter em mente que passará escutará muitos ruídos.

Notícias, movimentos de curto prazo, mídia, mudança de diretor da empresa, mudança de leis, governo, passeatas, guerras, nada disso interessa.

Isso também se estende para a próprio empresa que escolhe investir. Em vez de ouvir uma “história” da empresa, você deve prestar mais atenção aos fatos e aos números.

Os números e os fundamentos das empresas em que busca se investir são as informações mais importantes para o investidor.

Confira o artigo:

4 – Seguir a estratégia

Somos incapazes de prever o futuro.

O investidor deve investir nos ativos conforme a estratégia pré-definida anteriormente, que significa rebalancear o percentual de seus ativos comprando o que está para trás, com base em sua alocação de ativos.

Se ater a estratégia é muito importante para evitar os vieses cognitivos e erros sistemáticos (tais como excesso de confiança, viés do retrospecto e efeito manada).

Recomendo a leitura:

5 – Focar no longo prazo

O foco do investidor que deseja acumular patrimônio deve ser o longo prazo.

A obra do professor Thaler ecoa a de Benjamin Graham, o pai do investimento em valor, que advertiu em 1949 que a variação dos preços das ações poderiam ser ignoradas por meio de “negligência ou preconceito”.

Ao prestar atenção demais ao curto prazo, as atitudes e tomadas decisões erradas afetam drasticamente. As evidências mostram que focar no longo prazo é o caminho para ter sucesso na bolsa.

Leia também:

Conclusões

Richard Thaler, Prêmio Nobel de Economia de 2017 devido a teoria do Nudge, é um dos maiores estudiosos do campo de economia comportamental.

A economia comportamental estuda os efeitos de fatores psicológicos, cognitivos, emocionais, culturais e sociais nas decisões econômicas de indivíduos e instituições e como essas decisões variam daquelas implícitas na teoria clássica.

Dentre outros conceitos de economia comportamental, podemos destacar o termo nudge, também chamado de “arquitetura de escolha”, que surgiu para explicar como as pequenas intervenções podem encorajar indivíduos a tomar decisões diferentes.

Dentre as aplicações do nudging, podemos citar:

  • Doações de órgãos
  • Lembretes fiscais
  • E-cigarros
  • BREXIT
  • Supermercados
  • Esquemas Ponzi e atalhos de ganho rápido

Os estudos de Thaler podem ajudar ao investidor a entender melhor seu comportamento e tomadas de decisão. Confira 5 elementos que são beneficiados pelo auto-conhecimento de seu comportamento:

  1. Poupar mais para o amanhã
  2. Definir metas
  3. Focar nos fatos e no valor
  4. Seguir a estratégia
  5. Focar no longo prazo

Todos nós freqüentemente tomamos decisões irracionais.

Aceitar, reconhecer e aprender com nossos erros é o caminho correto para nos tornarmos melhores investidores.

Bons investimentos!

Livros recomendados

Fontes de consulta

  • https://www.nytimes.com/2017/10/09/business/economy/richard-thaler-economics.html?_r=0
  • https://www.theguardian.com/world/2017/oct/09/what-is-behavioural-economics-richard-thaler-nobel-prize
  • https://www.theguardian.com/world/2017/oct/09/nobel-prize-in-economics-richard-thaler
  • https://www.theguardian.com/society/2010/sep/09/cameron-nudge-unit-economic-behaviour
  • https://pt.wikipedia.org/wiki/Richard_Thaler
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